quinta-feira, 10 de novembro de 2011

VELA – RETALHOS

A região que hoje conhecemos como Beira Interior pode, em épocas remotas, ter sido o ponto de convergência de dois ramos que podemos considerar como percursores dos lusitanos, o povo que vinha do Sul, da região da Beira-Baixa conhecido como os “Igaeditani” e o povo que vinha de Norte que eram os “Lancienses Oppidani”, estas tribos devem ter começado por se instalar nas cumeadas dos montes onde provavelmente construíram fortificações castrejas. Uma das hipóteses da origem toponímica tem a ver com o facto de o local se situar num bom posto de vigia, ou de vela, dos pontos Este, Sul e Sudeste, apesar de existirem outros lugares na actual freguesia que podem ter sido o berço toponímico do lugar.No topónimo Vela, é muito difícil saber a origem e evolução do nome, há bastantes teorias acerca do assunto, mas nenhuma delas definitivamente segura. Em Amezendinha (ou vale da Amezendinha) por exemplo, tem-se o diminutivo do antigo “amezenda” que deve ter denominado um local vizinho que entretanto se desvaneceu por a povoação se ter fixado noutro local.
O nome amezenda referia-se a um local povoado de macieiras (provavelmente bravas) de qualquer modo, o topónimo verdadeiro é difícil de descobrir.
A partir do século IV A.C. os Túrdulos estabelecem-se em Castelo Rodrigo e progridem para o interior do território que hoje são as Beiras, posteriormente, entre os séculos I e IV da nossa era deu-se a romanização do território. A desagregação do modo de vida romano agudizou-se com a chegada de, Suevos, Alanos e Vândalos cerca do ano de 409 D.C., após o ano de 585 com a unificação peninsular sob a coroa visigótica parece ter havido uma tentativa de desmilitarizar a paisagem. Mantém-se a ruralização da sociedade e as cidades conservam apenas as suas funções religiosas e civis, desaparecendo progressivamente as suas funções judiciais e posteriormente fiscais, num claro processo de perda de capacidades de controlo do território. Apesar de tudo, a Península Ibérica parece ter conhecido uma relativa estabilidade entre o fim do século VI e o início do século VIII. As lutas internas pelo controlo do poder acabam por desencadear a entrada dos muçulmanos em 711.
Na segunda metade do século IX, durante o reinado de Ordonho I, o processo de reconquista dos territórios sob poder muçulmano toma novo fôlego e assume uma nova motivação, a de repovoar e reorganizar o território, porém, após o controle político cristão de um século, os muçulmanos conseguem reconquistar novamente toda a área entre a linha do Mondego e do Douro, até meados do século XI.
A ocupação muçulmana da região nordeste da serra da Estrela não deixou muitas marcas, mas ainda hoje é possível identificar alguns topónimos que atestam a presença da língua árabe nestas terras, como por exemplo: Soida e Ramela, no actual concelho da Guarda.
Com o fraccionamento do califado em pequenos reinos ou taifas, toda a antiga Lusitânia romana fica integrada na taifa de Badajoz.
O rei asturo-leonês Fernando Magno inicia a partir de 1055 a nova e definitiva reconquista cristã dos territórios entre o Douro e o Mondego. No início do século XII, toda a linha estabelecida pelo rio Mondego era considerada a fronteira do condado de Portucale.
A criação da Vela como povoação deve atribuir-se ao repovoamento efectuado por D. Sancho I. O topónimo “Alvarões”, (local situado na serra a Oeste da Vela) pode no entanto, ser muito anterior à nacionalidade.
Parece que devido a Franklin no seu arrolamento de forais, por certo depois firmado por Pinho Leal, um grave erro se expõe sobre esta freguesia, o de dizer que recebeu foral, dado por D. Afonso III em 1255, com o consequente equívoco de dizer que foi vila com o nome de Veela, o que na realidade era referente a uma povoação no concelho de Vila Pouca de Aguiar, podendo-se confirmar no próprio arrolamento de forais de D. Afonso III e de acordo com as inquirições do mesmo em 1258 que referem como confrontações o seguinte: 1ª alçada - entre Cávado e Minho e 2ª alçada – entre Douro e Ave até ao Tâmega, povoação essa hoje com o nome de Vilela.
Sobre o povoamento do território abrangido pela freguesia de Vela até cerca dos séculos XII – XIII nada ainda foi encontrado em termos de documentação e, anteriormente o mesmo sucede, pondo de parte qualquer elucidação histórica.
Onde realmente se encontram algumas menções à freguesia da Vela, ainda não instituída paroquialmente, é nas inquirições de D. Dinis, (1290) onde se depreende que o lugar deve ter sido repovoado dos finais do século XII para o início do século XIII, por certo quando D. Sancho I fundou a Guarda e lhe deu termo compreendendo este local que, apesar de subordinado à Guarda, dispunha de alguma liberdade municipal própria pois tinha alcaides e oficiais privativos e por fim os nobres fizeram do lugar honra e com isso deixou de obedecer à cabeça de julgado, acrescentando-se ainda os limites de honra para além dos do local.
O primeiro senhor da Vela e Jarmelo de que existe documentação foi D. João Afonso Telo, sexto conde de Barcelos, falecido na batalha de Aljubarrota em 14 de Agosto de 1385 e que, devido a não ter deixado descendência, deu azo a que D. João I doasse as terras de Vela e Jarmelo a um dos heróis da mesma batalha que era o vassalo da coroa Egas Coelho, em carta régia de 29 de Agosto de 1385.
Egas Coelho manteve-se pouco tempo na posse Dos lugares de Vela e Jarmelo devido a problemas com o rei, o que veio dar origem ao seu exílio para Castela. O rei D. João I doou todos os bens de Egas Coelho, excepto os bens de Leiria, ao filho primogénito do mestre da Ordem de Cristo, Diogo Lopes de Sousa. Durante o longo tempo de vida do senhor da Vela e devido à boa relação do mesmo com o infante D. Pedro, a Vela e os seus moradores conseguiram obter alguns benefícios.
Por morte de Diogo Lopes de Sousa, provavelmente ocorrida no ano de 1448, sucedeu-lhe o seu filho primogénito Álvaro de Sousa. Tal como o seu antecessor, este fidalgo continuou a desempenhar as funções de mordomo-mor do rei.
Devido à continuação de relações amigáveis com a família real, D. Afonso V, por carta de 2 de Janeiro de 1459, outorgou a jurisdição civil e criminal ao lugar, fazendo com isso que a Vela se tornasse independente da jurisdição da Guarda.
A reacção da Guarda à perda de jurisdição sobre a Vela não tardou a demonstrar-se sob a forma de contestação à deliberação real, o que provavelmente fez com que D. Afonso V tenha reflectido acerca da atitude tomada e tenha, após bastantes exposições e solicitações feitas pelo concelho e homens-bons da Guarda, tenha promulgado um diploma em 6 de Julho desse mesmo ano de 1459 a dar sem efeito a carta por ele outorgada em Janeiro.
A expressão demográfica da Vela que nos aparece claramente denunciada no numeramento de 1527 demonstra-nos a importância do lugar, a cidade da Guarda tinha naquela altura 379 habitantes e a Vela encontrava-se em segundo lugar com 152, tendo como terceiro lugar com apenas 97 habitantes o Seixo Amarelo e havendo lugares como por exemplo, a Benespera, com apenas 56 habitantes.
Nesta freguesia houve e há, algumas infelizmente completamente degradadas, quintas notáveis de famílias que tiveram mais realce nos séculos XVIII e XIX, talvez oriundas da honra da Vela, cuja estirpe não se determina, sendo dignas de especial menção, a dos Saraiva Refoios, destruída e espoliada de toda a sua origem durante o governo do estado novo e transformada num edifício estilo estado novo que actualmente serve como lar de terceira idade. Nesta quinta existia um notável chafariz armoriado do século XVIII assente ao cimo de uma espaçosa escadaria e construído de finíssima pedra, chafariz esse que ornamenta hoje em dia a entrada Sul da cidade da Guarda para onde foi levado para a cidade da Guarda quando da destruição do espaço. Existe também a dos Póvoas, onde o cabo-de-guerra miguelista, general Póvoas, passou os últimos anos da sua vida e acabou por falecer.
No paroquial a freguesia da Vela é posterior ao século XV e parece ser instituição da Sé egitaniense numa ermida medieval de Santa Maria. Estava-se em pleno século XIV. Um grupo de Terceiras Seculares (não eram propriamente freiras) que davam pelo nome de Beatas Terceiras e tinha criado um hospício num lugar distante da Vela cerca de duas léguas, umas eram naturais do lugar da Vela outras vieram de fora e viviam de esmolas recebidas nos lugares até onde se deslocavam. Por usarem hábitos pardos o povo começou a dizer que andavam em hábitos de S. Clara e a partir daqui e querendo abraçar a regra da matriarca S. Clara, foram duas delas a Avinhão pedir ao papa Clemente VI que lhes concedeu a graça que pediam pela bula. Chamavam-se estas duas mulheres, Florença Anes e Maria Fernandes e no regresso, juntamente com todas as outras companheiras, professaram a regra de S. Clara, ordem que veio mais tarde a ser transferida para a cidade da Guarda para o convento de S. Clara.
Talvez por influência destes acontecimentos é que o chantre da sé da Guarda presenteava o vigário da Vela com 30 mil réis de côngrua além do pé-de-altar.
No administrativo, a Vela foi sempre do termo da Guarda e, na actualidade, a Vela é uma freguesia do concelho, comarca, distrito e diocese da Guarda.

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