death of innocence

paisagens irreais

SEM TITULO

UM DIA NA VIDA DE UMA MARIA




Eu não sou uma maria qualquer
sou uma maria que sabe o que quer
arrumar, varrer, lavar e cozer
sei sempre quando o hei-de fazer

mais completa não há
sem mim nem sei o que será
sou uma maria completa
que tem uma função concreta

ponho o guisado em stand-by
enquanto a loiça vem e vai
não descurando a limpeza
e que a roupa lavada é uma certeza

a roupa cheira a novo
enquanto estrelo um ovo
limpar o pó às mil maravilhas
enquanto guiso umas ervilhas

tudo corre bem no planeta maria
amanhã será outro dia
e enquanto o novo dia não vem
passar a ferro vai-me saber muito bem

TU DISSESTE QUE M’AMAVAS
QUE ME ENCHERIA DE ORGULHO
MAS NÃO OUVI O QUE DISSESTE
POIS ESTAVA MUITO BARULHO

A SEGUIR ENTÃO BEIJASTE-ME
E EU NÃO CABIA EM MIM
POIS CONTINUAVA SEM SABER
POR QUE ESTAVAS TU ASSIM

EU AINDA ME OCORREU
QUE TIVESSES METIDO ALGO
POIS ESTAVAS TÃO EM CIMA
E EU PARECIA UM PAPALVO

QUANDO DISSERES QUE M’AMAS
ESCOLHE UM SÍTIO DIFERENTE
DIZ-ME ISSO NUM CEMITÉRIO
ONDE SE OUVE TODA A GENTE

QUANDO ACORDEI FINALMENTE
AINDA ESTAVA ATORDOADO
E AINDA PIOR FIQUEI
SÓ POR TE VER AO MEU LADO

EU BEIJEI-TE E ACORDASTE
PERGUNTEI O QUE SENTISTE
OLHASTE P’RA MIM SORRINDO
DISSESTE QUE ATÉ DORMISTE

DISSESTE NUNCA TER SENTIDO
TÃO ESTRANHAS SENSAÇÕES
E ENTÃO EU DISSE, PUDERA
EU NEM TIREI OS CALÇÕES

PERGUNTEI QUANDO SAÍSTE
SE TE VERIA OUTRA VEZ
E DISSESTE COM TERNURA
TALVEZ UMA VEZ POR MÊS

PERGUNTASTE-ME SE ACHAVA
QUE UMA POR MÊS ERA MUITO
E EU COM A VOZ EMBARGADA
PREFERI MUDAR DE ASSUNTO

DEPOIS DISSESTE-ME ASSIM
QUANDO EU JÁ ESTAVA DESPERTO
ESTA SELVA DE EMOÇÕES
ATÉ PARECE UM DESERTO

“TANTAS NOITES A MONTANTE”

TANTAS NOITES A MONTANTE
AS NOITES QUE JÁ PARTIRAM
E AS NOITES QUE HÁ A JUSANTE
‘INDA NEM SE PRESSENTIRAM

AS NOITES POR MAIS VIVIDAS
SÃO SEMPRE NOUTRO CONTEXTO
SEJAM LENTAS OU CORRIDAS
TÊM SEMPRE ALGUM PRETEXTO

NOITES PASSADAS EM CLARO
NOITES PASSADAS EM BRANCO
NOITES EM QUE NÃO REPARO
E NOITES QUE EM MIM ME TRANCO

AS NOITES QUE SEMPRE ACABAM
AS NOITES QUE TALVEZ NÃO
AS NOITES EM QUE ME AFAGAM
AS NOITES DE SOLIDÃO

AS NOITES SEMPRE AS VIVI
DUMA FORMA DELIRANTE
AS NOITES QUE PERCEBI
ACABAM MAIS ADIANTE

AS NOITES QUE HÃO-DE CONTAR
P’RÓS DIAS QUE INDA VIRÃO
AS NOITES IRÃO PASSAR
MAS OS DIAS TALVEZ NÃO

“POETAR”



EU QUERIA UMA VIDA CONVENIENTE
QUE PASSASSE ALÉM DE UMA EQUIVOCAÇÃO
MAS DEUS ACHOU QUE ISSO ERA CONTRAPRODUCENTE
E DEIXOU-ME A MEIO DESTA MANUTENÇÃO

DAÍ P’RA CÁ TENHO TENTADO DISTINGUIR
SE É NORMAL EXISTIR A SEMELHANÇA
MAS É TÃO DIFÍCIL COEXISTIR…
PODE SER QUE AINDA HAJA ALGUMA ESPERANÇA

E AO LONGO DE TANTO DEVANEIO
E DE VIVER NO MEIO DE TANTA GARRULICE
APÓS PASSAR POR TANTO ENTRESSEIO
CHEGUEI À CONCLUSÃO QUE É PARVOÍCE

E UMA RAÇA QUE COM TAL ANALGIA
COMPOSTA POR TANTO SER ANAFADO
TALVEZ VÁ A ALGUM LADO UM DIA
MAS P’RA JÁ EU ESTOU INCONFORMADO

E UM DIA, TALVEZ JÁ EXTEMPORÂNEO
EM QUE O ENCÉFALO COMEÇE A TRABALHAR
TALVEZ O GRANDE DEUS MAGNÂNIMO
VÁ DIZER QUE JÁ NÃO DÁ P’RA REPARAR

ENFIM, APÓS TÃO TRISTES DEDUÇÕES
E DITO POR ALGUÉM TÃO FIDEDIGNO
IREMOS POR FIM SENTIR AS EMOÇÕES
QUANDO NOS DISSEREM QUE O TUMOR ERA MALIGNO

ENQUANTO COMIA
PENSAVA EM TI
E QUANDO ENGOLIA
PENSAVA EM TI
E MESMO AO MASTIGAR
PENSAVA EM TI
E ATÉ AO ACORDAR
PENSAVA EM TI
SERÁ QUE ISTO
NÃO É DEMAIS PARA TI
E SERÁ SUFICIENTE
PARA TI
SABER QUE A VIDA
NÃO É MAIS DO QUE UM KIWI

“O TEMPO PASSA DEVAGAR”

O TEMPO PASSA DEVAGAR
E COM ELE VAMOS DIVAGANDO
TUDO CONTINUA NO SEU LUGAR
TUDO CONTINUA DESCANSANDO

O TEMPO ESTÁ SEMPRE A PASSAR
POR ISSO NÃO EXISTE O PRESENTE
O FUTURO NÃO SE SENTE
E O PASSADO ESTÁ AUSENTE

O TEMPO COMO O CHAMAMOS
O QUE SERÁ EM CONCRETO
É MAIS VELOZ DO QUE O VENTO
MAIS ESTÉRIL QUE UM DESERTO

PASSAMOS CÁ TANTO TEMPO
PARECE SEMPRE TÃO POUCO
DURANTE ESSE TEMPO, TENTO
NÃO ME DEIXAR FICAR LOUCO

COMO ELE PRÓPRIO NÃO EXISTE
NÃO SE FALA EM ACABAR
COMO PODE ACABAR ALGO
QUE NÃO HÁ EM NENHUM LUGAR

“O PERCURSO”

SEMPRE QUE PENSO EM FUGIR
NUNCA DEIXO DE PENSAR
SERÁ QUE QUERO PARTIR
SERÁ QUE QUERO CHEGAR

E É EM MOMENTOS DESTES
QUE NOS POMOS A PENSAR
DE ONDE QUEREMOS PARTIR
E ONDE QUEREMOS CHEGAR

PARA O PERCURSO SER SEMPRE
AQUILO QUE NÓS ESCOLHEMOS
HÁ QUE TER SEMPRE PRESENTE
TODAS AS OPÇÕES QUE TEMOS

SE NÃO NOS ACOMODARMOS
NEM SE FOR POR COBARDIA
AQUELA META QUE TEMOS
SERÁ ATINGIDA UM DIA

NÃO DÁ P’RA DESESPERAR
NEM P’RA SER IMPACIENTE
AS COISAS BOAS DA VIDA
NÃO SE ATINGEM DE REPENTE

NÃO TE ESQUEÇAS DA MENSAGEM
POR MUITAS VEZES OUVIDA
VALE MAIS SER LEÃO UM DIA
QUE CACHORRO TODA A VIDA

SEM MAIS PALAVRAS VOS DEIXO
NÃO SEM ANTES RECORDAR
QUE NÃO VAIS A NENHUM LADO
SE DEIXARES DE SONHAR

“O DIA MAIS IMPORTANTE DA VIDA”



DONA QUITÉRIA ME DISSE
QUE ERAS UM BOM PARTIDO
DEVIDO A TAL MESQUINHICE
ACTUALMENTE ESTOU FODIDO

QUANDO NO ALTAR TE VI
EU FIQUEI TÃO ASSOMBRADO
QUE EM VEZ DE TE BEIJAR A TI
BEIJEI QUEM ESTAVA AO TEU LADO

COMO A MEIO DA CERIMÓNIA
O PADRE POR MIM CHAMOU
RESPONDI COM PARCIMÓNIA:
-NÃO GRITE QUE EU AQUI ESTOU

MAIS TARDE NO COPO-D’ÁGUA
QUANDO À MINHA VOLTA OLHEI
REPAREI COM CERTA MÁGOA
QUE O VINHO TINTO ERA O REI

E À NOITE JUNTOS NA CAMA
VENDO TUDO À RODA ANDAR
AINDA TE AGARREI NA MAMA
JÁ ESTAVAS A RESSONAR

NO FUTURO

A tristeza, o luto e o rancor
São o fruto deixado pelo presente
A paz, a justiça e o amor
Desapareceram da memória desta gente

O frio, a fome e a agonia
Serão coisas presentes no futuro
Mas mesmo assim vivendo noite e dia
Continuarei buscando o que procuro

As nuvens de gáz poluente
Que pairam por todos os lados
Absorvem os sentidos da gente
E deixam-nos ficar agoniados

O cheiro nauseabundo que nos rodeia
Enquanto vasculhamos num caixote
Transparece como uma clara idéia
E descarrega na força de um garrote

E mesmo que assim não se pressinta
Nesta maldita ânsia de viver
O destino prega-nos a finta
E torna-a numa ânsia de morrer

“FALANDO DE FORMA AMBÍGUA”


Falando de forma ambígua
Esta história vou contar
Por ser uma história antiga
Eu nem queria acreditar

Certa noite um passarinho
Na janela veio pousar
Estava tão sossegadinho
Que até o pude agarrar

Afinal o seu sossego
Era por outro motivo
O animal era um morcego
Já quase não estava vivo

Larguei-o a ver se voava
Que o bicho estava de todo
Apenas cambaleava
Não se mexia de outro modo

Dei-lhe algumas palmadinhas
Para ver se arrebitava
Mas palmadas levezinhas
Ele nem sequer as notava

Fiz-lhe massagens cardíacas
E vi como reagiu
Essas horas foram críticas
E o bicho nem as sentiu

Tentei em ultima instância
Respiração boca a boca
Mas na minha ignorância
Foi essa a coisa mais louca

O animal reagiu
Ao entrar pela goela
E só depois de o engolir
Senti que ele era ela

“EU TENHO UNS GENITAIS VIRTUAIS”


EU TENHO UNS GENITAIS DIGITAIS
NUNCA PENSEI EM TER OUTROS QUE TAIS
EU TENHO UNS GENITAIS VIRTUAIS
NÃO SEI O QUE POSSA QUERER MAIS
E OS OUTROS GENITAIS DOS PESSOAIS
SÃO SEMPRE IGUAIS
SEMPRE IGUAIS
SEMPRE IGUAIS

E QUANDO OS METO NO COMPUTADOR
É SEM TEMOR
NÃO SINTO DOR
NÃO SINTO DOR
NÃO SINTO DOR

AO CONTRÁRIO DOS OUTROS SEMPRE IGUAIS
QUE ATÉ APANHAM DOENÇAS NOS GENITAIS
SÓ OS VÍRUS É QUE SÃO UMA COISA SÉRIA
MAS PELO MENOS NÃO APANHO UMA VENÈREA

E OS GENITAIS VIRTUAIS DURAM UMA VIDA
COM GIGABYTES É MUITO MAIS GARANTIDA
POIS COM HORMONAS TENS A VIDA MAL VIVIDA
E HÁ UMA ALTURA QUE A COISA FICA ENTUPIDA

PORTANTO, ACREDITA EM MIM
MESMO COM VÍRUS E TUDO, TU SÓ TENS QUE FAZER “CLEAN”
E SE FIZERES UPDATES E RESTAUROS E COISA ASSIM
COM GENITAIS VIRTUAIS O SEXO NÃO TEM FIM

EU DESCONTO


EU DESCONTO
EU SOU UM TONTO
EU ESTOU LEGAL
SOU UM ANIMAL
HÁ QUEM VIVA
SEM NENHUM DESCONTO
E NÃO FAZ ESTA FIGURA DE TONTO
HÁ QUEM VIVA
SEMPRE ILEGAL
MAS POR UM CASO BANAL
OU SÓ POR SER AMORAL
NUNCA SE DÁ MAL
EU TRABALHO
E SOU HONESTO
COM CERTEZA TENHO UM DESTINO FUNESTO
A HISTÓRIA
DA DECÊNCIA
É UMA HISTÓRIAQUE DÁ MUITA SONOLÊNCIA
ESTOU FARTO
DE SER NORMAL
OS ANORMAIS QUE MANDAM
SÃO OS QUE ME DEIXAM MAL
INCOMPETENTES
DELINQUENTES
POLÍTICOS E CRIATURAS ADJACENTES
E OUTROS SERES ASSIM REPELENTES
SÃO APENAS COMO GASES POLUENTES
A MAIS-VALIA
DA CORRUPÇÃO
DÃO-NOS MIGALHAS QUE NOS TIRAM CO' OUTRA MÃO
MAIS IMPORTANTE
E P'RA ACABAR
NEM SE GOVERNAM NEM SE DEIXAM GOVERNAR

“ESTOU FARTO”



ESTOU DEPENDENTE DE HORÁRIOS
E DE RESPONSABILIDADES
ESTOU DEPENDENTE DE OTÁRIOS
E DE BANALIDADES
ESTOU FARTO!

ESTOU DEPENDENTE DE SEITAS
E DE TANTOS RITUAIS
DEPENDENTE DE FRASES FEITAS
E DE ATURAR ANORMAIS
ESTOU FARTO!

ESTOU DEPENDENTE DE PATRÕES
TENHO ENGOLIDO MUITO SAPO
MAS JÁ ESTOU FARTO DE COIRÕES
E DE SÍTIOS ONDE É PRECISO IR DE FATO
ESTOU FARTO!

ESTOU DEPENDENTE DOS DOUTORES
ESTOU DEPENDENTE DOS MANDANTES
JÁ NÃO TENHO PACIÊNCIA P’RA ESTUPORES
E MUITO MENOS PARA TRATANTES
ESTOU FARTO!

ESTOU DEPENDENTE DA FUNERÁRIA
E ESTOU DEPENDENTE DO QUE DEUS QUER
ERA UMA INFECÇÃO MAMÁRIA
ERA O QUE TINHA QUE SER
ESTOU FARTO!!!!!!!!!!!

ESTAVA EU AQUI SENTADO
A PENSAR NA MINHA VIDA
E COMO QUE POR ENCANTO
ELA PASSOU DE FUGIDA

QUANDO ENTENDI QUE PASSARA
FIQUEI DE ALMA CONDOÍDA
NÃO VI SE O QUE SE ESCAPARA
TINHA SIDO ELA OU A VIDA

QUANDO ESTAMOS DISTRAÍDOS
E NOS POMOS A CISMAR
HÁ SEMPRE PARTES DA VIDA
QUE ACABAM POR SE ESCAPAR

E QUANDO DAMOS POR NÓS
NESTA DOR ENTORPECIDA JÁ TUDO DESAPARECEU
TANTO ELA COMO A VIDA

POR ISSO MEDITA BEM
SE VALE A PENA CISMAR
OU SE NÃO VALE MAIS A PENA
APROVEITAR O AQUI ESTAR

OLHA QUE A VIDA É SÓ UMA
NÃO A DEVES DEIXAR PASSAR
E MUITO MENOS A ELA
SE ELA A TI SE ENTREGAR

DEIXA DE SER AGOIRENTO
USUFRUI DO TEU LUGAR
A VIDA É SÓ UM MOMENTO
NÃO O VAIS DESPERDIÇAR

“DIARREIA NASAL”


Tenho uma diarreia nasal
Neste momento já não me sinto tão mal
Mas quando começou a diarreia
Ainda pensei que a coisa ficasse feia

A diarreia nasal faz-nos tão mal
Que por vezes temos que ir ao hospital
Mas o hospital também bem não nos faz
Porque nos põe a ver a vida andar p’ra trás

Por isso há que ter sempre muito cuidado
Se por diarreia nasal fores atacado
Mesmo que sintas no nariz a comichão
No hospital vais apanhar outra infecção

Avinha-te abafa-te e abifa-te diz o povo
E o médico não te traz nada de novo
Porque faça-te lá ele o que fizer
A diarreia nasal não vais perder

E termino por aqui este conselho
Porque agora também me dói o joelho
E a diarreia nasal a chatear
Agora obriga-me a correr p’ra me assoar

CORRER, VIVER



Correr, correr sem saber porquê
Viver sem saber o que se vê
Sofrer sem obter nenhum prazer
Passar pela vida sem querer

De entre tantos fomos escolhidos
Era para estarmos agradecidos
Mas agradecidos a quê ou quem
Pois além de nós não há ninguém

O tempo passa-nos pelos dedos
E é importante perder os medos
Mas sempre sem perder a noção
Que no fundo tudo isto é uma ilusão

Seja real ou não seja
O que interessa é que se veja
Que a vida seja o que for
Não se vive sem amor

A espera



Esta espera que atormenta
Nesta incerteza sem fim
É uma espera desesperante
Mas só tem que ser assim

O tic-tac do relógio
Deixa-me com falta de ar
E enquanto estou aguardando
Só luto por respirar

Os segundos são contados
Como se de horas se tratasse
E este tempo que não passa
Mesmo que não o contasse

Eu estico-me o mais possível
Para poder respirar
Já não sinto os pés no chão
Já me estou a apagar